quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Feminismo, machismo, lugar de fala e procrastinação

Eu queria ser youtuber, mas já sou professora e meus problemas de dicção já dificultam muito a minha vida profissional, por isso, acabo, durante o café, no chuveiro, antes de dormir, antes de sentar pra trabalhar - procrastinação -  ficar martelando as ideias que não disse durante o dia por falta de articulação (e por interrupções por terceiros na linha de pensamento mesmo).

E então, depois daquela divulgação global da youtuber Kéfera sobre o feminismo (que, em resumo, na minha perspectiva, poderia ter abordado com mais didática o tema, mas por outro lado entendo porque também já estou de saco cheio de TENTAR explicar - quando tenho a rara oportunidade de ser ouvida - 200 vezes as mesmas coisas), e depois de algumas TENTATIVAS de conversa com pessoas esclarecidas, que sei que não são escrotas, mas que - compreensivamente - estão imersas na nossa bela estrutura machista e ainda não conseguiram abrir a mente pra algumas coisas, resolvi escrever pro blog.

E também porque ia completar um ano sem nada, e o que está escrito nesse blog faz parte de mim, erros e acertos.
E porque, como adiantei ali em cima, estou procrastinando o trabalho.

Feminismo não é o oposto de machismo, e isso a gente já tá cansada de explicar. Mas, outra coisa... FEMISMO não existe, o que existe é o MACHISMO. Femismo é uma vertente do feminismo que realmente prega a inversão da opressão masculina pela feminima.

Agora, ele, em si, impregnado na sociedade, existe? Você, homem, sofre com o femismo? NÃO!

E você sofre sim, com os papeis estabelecidos na sociedade e o perfil de como deve ser um homem, a partir da PERSPECTIVA MACHISTA.

Um homem não pode ser professor e lecionar para os Anos Iniciais, que será mal visto POR CAUSA DO MACHISMO, porque homem não pode ser compreensivo e sensível, ele só pode ser um tarado sexual que enxerga menininhas de 10 anos como "comível", e isso está impregnado nas nossas cabeças (de homens e mulheres). Está impregnado porque existe, e existe, em muita medida, porque está impregnado que o papel do homem é só ser macho forte comedor e provedor, desde criança. Isso é machismo.

As pessoas debocham de um homem hétero que usa uma calça colada, porque a estrutura MACHISTA nos diz que tudo que "feminiliza" é inferior, é digno de deboche, e isso é papel da mulher.

E quando uma mulher quer ter a palavra, ou domina algum tema mais que um homem, ela não quer "impor sua opinião", ela quer relatar um fato que ELA VIVEU, NA PERSPECTIVA DELA, e que você não viveu, e por isso, não enxerga o problema da mesma forma, porque não vive o problema. Aliás, vive o machismo, como nos casos que citei, mas não passa por 5% dos danos dele, do que uma mulher. Isso é lugar de fala.

Eu posso, da minha posição, dizer que gays são sempre simpáticos e amigos, mas eu não posso negar que membros da comunidade gay tem mais propriedade pra argumentar sobre essa opinião.

E aí, quando uma mulher se sente abusada com um assobio na rua, nenhum homem está na mesma posição, socio-histórica, inclusive, pra dizer que "não é nada demais" (isso é o tal do "mansplain", ou "macho palestrinha"). Porque ele não sabe o que é se sentir vulnerável diante de 50% da população, não sabe que antes desse assobio, aquela mulher provavelmente já passou por uma série de olhares intimidantes, palavras agressivas, omissão de fala no trabalho, passou horas escolhendo uma roupa que equilibrasse ela se sentir bem e bonita com o risco que corre na rua de ser abusada ou difamada, etc. Isso é lugar de fala.

E, pra encerrar, ultimamente, nas redes sociais, vejo e compreendo o colapso da esquerda no Brasil e no mundo. Nós falamos para os outros, e não com os outros. Nós falamos com um tom de soberba que não compreende o outro, só nos afasta.

Nós temos que aprender a ter humildade, e saber ouvir e assimilar DE VERDADE a experiência do outro. Só assim seremos mais.

Nenhum comentário:

Powered By Blogger