Antes de mais nada, como a sinceridade é minha característica mais marcante e que procuro valorizar, devo admitir que quase não trabalhei esse ano. Isso porque, como entrei no mestrado no inicio do ano, a minha carga horária que é de 20h (divididas entre manhã e noite) foi condensada em dois dias na semana devido as aulas em Pelotas. Sendo assim, no primeiro semestre lecionei às quintas e sextas-feiras e no segundo, às terças e quartas-feiras. E o que mais teve nesses dias da semana?? Feriados. Assim, eu tirava micro-féiras de 12 dias a cada feriadão que rolava.
Mesmo assim, sinto que, principalmente no final do ano, cresci como professora. Não que eu tenha me tornado maravilhosa, longe, muito longe disso, mas senti, no meu íntimo, que começou a florescer algumas características de professor que eram pouco desenvolvidas em minha pessoa. Tudo pode ser consequência da euforia de fim de ano, não pode se descartar essa possibilidade.
Como muito autocrítica que sou, tenho de falar que estive muito desleixada esse ano, quase caindo naquele conto do "caderno amarelado": como não era mais "minha primeira vez", já tinha cartas na manga do ano passado para usar em sala de aula, mas admito que esses recursos provisórios acabaram se tornando a regra: repeti muito do que fiz o ano passado.
Mas tudo isso acontece em prol da excelência. Eu não queria errar, não queria me estressar, não queria ter de lidar com um método ou atividade mal sucedidos. Quando preparamos coisas novas, o erro, em algum grau, sempre acontece, e a gente tem que ficar refletindo, modificando, avaliando a si mesmos, avaliando seu próprio trabalho. E eu tenho medo disso. Tenho medo de errar, de me frustrar, de perceber que não fui bem naquilo que planejei. Além da pouca criatividade que me acompanha desde alguma fase da minha vida em que passei a bloquear, sabe-se lá por qual trauma, a criação, a inventividade.
Criei afinidade com alguns alunos (e eu sei que o termo "aluno" remete a um individuo "sem luz", mas nunca dei muita bola para o significado que os outros dão às coisas, mas sim a forma com que eu as encaro), solicitei avidamente, mesmo que eles não percebessem, sugestões de atividades, materiais a serem utilizados em sala de aula, tudo apostando na minha incompetência.
O terceiro ano do médio foi um desafio para mim, porque não trabalhei o conteúdo no ano anterior e tudo tinha de ser novo, e no primeiro ano, inverti o conteúdo e também tive que trabalhar coisas novas com eles. Muita coisa foi massiva, exaustiva, mas também não penso que a educação de qualidade deva ser de todo e exclusivamente lúdica. O lúdico quem cria é a nossa vontade de fazer. Mas outros exercicios foram legais, mas obviamente, tudo tinha um porém, e esse porém era algum detalhe desconsiderado na elaboração que era evidenciado na aplicação. Mas qual o problema disso? Para uma pessoa depressiva, o problema era gigantesco.
Para uma pessoa que precisou de mais de dois anos de terapia para conseguir enxergar algum vislumbre de lado bom nas coisas, inclusive em si mesma, o erro e a frustração pesam como um caminhão cegonha carregado de Pajeros em cima de ti. Para mim, qualquer mínimo ou grande detalhe que não desse certo, era motivo para acordar no dia seguinte sem querer viver. Mas, quando a gente olha de longe, percebe que nada, ou quase nada, dá certo de primeira. Principalmente quanto o "dar certo" depende de variáveis como o tempo, a disponibilidade de material e, mais do que qualquer outra coisa, de 30 a 40 adolescentes com múltiplos recursos e uma vida maravilhosa e aparentemente sem limites pra explorar.
Enfim, vou encurtar a reflexão porque até eu já estou me perdendo no raciocínio (o que explica a dificuldade de escrever textos acadêmicos) e morrendo de fome porque ainda não tomei café:
Nesse segundo ano de docência, tive, também problemas pessoais sérios, que dificultaram muito o meu interesse por uma vida que realmente valesse à pena, e operei no modo automático na maior parte dos dias do ano. Por outro lado, tive de experimentar conteúdos novos e conhecer novos alunos, tive estresses e alguns adolescentes típicos que me fizeram pensar "eu não nasci pra ouvir desaforos", outros adolescentes típicos que me fizeram pensar "que criatura chata, igualzinho a mim", alguns que me fizeram não querer levantar no dia seguinte, outros que eram a única razão pra eu levantar no dia seguinte.
- Estou aprendendo aos poucos que a afinidade e o carinho pelos alunos não é inversamente proporcional à responsabilidade, tanto minha quanto deles, de estabelecer o ambiente de aprendizagem guiados pelo respeito mútuo e da prática escolar girar em torno da fundamental importância da educação e do conhecimento;
- Dentre as coisas que menos me deixam expectativas para 2015 está o estado doente da nossa sociedade, onde os jovens são expostos à vida adulta sem responsabilidades, e acabam sendo moldados pela irresponsabilidade do nosso tempo;
- Dentre as coisas que me levam para 2015 com esperanças de um ano melhor, de formação dia a dia como professora e indivíduo, é enxergar o progresso de alguns alunos de 2013 para 2014, dos quais no ano anterior eu torcia para que não aparecessem na aula, e que neste ano, a maior alegria era vê-los dialogando e participando, olhando para mim como uma pessoa que estava lá para dar suporte e liberdade para desenvolver seus conhecimentos e habilidades;
- Estive sempre me policiando de forma a me portar de acordo com meus ideais e minhas concepções sobre o mundo, e acredito que isto vêm dando relativamente certo. Como já falei do estado doente da sociedade, muitas vezes tive de fugir da minha admiração pelo Anarquismo e ser autoritária na sala de aula. Gostaria muito de ler sobre o tema e de fato me tornar uma pessoa que conheça aquilo que pratica e defende, mas não vou prometer isso a ninguém, porque não nasci para ser intelectual. Até gosto de ler, mas minha atenção flutua sempre para coisas mais objetivas.
- Quero que no 2015, eu seja obrigada a trabalhar mais, a pensar mais sobre minha prática e a errar muito. Quero errar cada vez mais.