terça-feira, 13 de setembro de 2011

Outro Olhar


Com essa avalanche de recordações do 11 de setembro de 2001, eu havia pensado em escrever minhas memórias um tantinho controversas, quando eu ouvi no jornal do meio-dia a pergunta a um “especialista” sobre o que mudou após o 11 de setembro.
Eu poderia dizer “ah, eu tinha 12 anos e fiquei fascinada quando cheguei em casa depois da escola e vi aquilo tido na TV”. Acho que eu já tinha uma veia subversiva ainda distorcida, pois eu gravava em um gravador de voz todas as interrupções de programação da Globo durante uma semana ou mais.
O que mudou depois do 11 de setembro?
Primeiramente, tornou conhecida da massa social a existência de um mundo no oeste da Ásia em que as pessoas possuem uma religião de costumes diferentes dos comumente praticados no Ocidente. Através da mídia, conhecemos loucos fanáticos religiosos, que praticaram e praticam atos terroristas apenas pelo ódio gratuito ao Ocidente e outras seitaas religiosas. Barbudos assassinos de nações inocentes, praticamente rebeldes sem causa, ou, quando muito, de causas que não justificam a barbárie.
Porém, para muitos curiosos, não foram somente estas as portas abertas. Os atentados aos EUA tornaram públicas questões que eram mantidas quase sempre no subúrbio político. Claro, com a distorção do apelo ao radicalismo meramente religioso e ideológico. Mas na realidade, são questões muito mais políticas e econômicas do que intolerância religiosa.
Hoje todos nós (ou grande parte) sabemos que o Oriente Médio é uma região rica em petróleo. Gente, mas o que isso tem a ver com os ataques de fundamentação religiosa? Nada, se os ataques fossem simplesmente de caráter religioso e expressão de “ódio cultural”.
O que move o mundo hoje e faz os bilhões de carros ocidentais se moverem? Ah, aí estamos chegando perto.
Sem querer fazer dos EUA o único demônio capitalista, é necessário esclarecer que, como maior potência econômica mundial, os EUA (ou melhor, seus ricos capitalistas e suas empresas) possuem maior interesse em controlar os meios de produção e, cada vez mais importante, os motores da produção. Por isso é comum mencionar os ianques como a “praga”, mas eles são somente os que respondem hoje pelo capitalismo.
O controle das regiões ricas em petróleo no mundo, desde a explosão do combustível fóssil, sempre foi muito bem exercido seguindo a cartilha da ideologia capitalista: a homogeneização. Seja através de “subornos” ou privilégios acordados com os líderes de cada país petroleiro (com mantido durante décadas com o hoje pintado como único demônio, Kadhafi, na Líbia), seja com a inserção dos costumes/culturas ocidentais capitalistas para reduzir a oposição, apresentando as “maravilhas do consumo” e calar através da força os desconfortáveis
Fizeram isso muito bem com os índios brasileiros do litoral a mais de 500 anos atrás quando europeus trouxeram instrumentos desconhecidos por estes em troca da boa recepção. Nas altitudes dos Andes, os indígenas foram traídos por alguns de seus líderes persuadidos com a perspectiva de poder supremo. Quando as forças de resistência no Oriente Médio, nas “expedições de conquista” atuais, não se dobraram, graças, aí sim, a seus conceitos religiosos bem estabelecidos, as técnicas modernas de exclusão, inserção de normas e condutas forçadas pelo mercado foram colocadas em prática, privando a população de condições básicas de vida, mais ainda do que o pouco de condição geográfica oferece. É a substituição da solidariedade pela competição (SANTOS, 2000).
Quando o povo rejeita a opressão e se organiza para resistir, eles só estão trazendo a campo as origens rudimentares das técnicas ociedentais atuais de coagir: seqüestram em troca de voz, matem diretamente pelos milhares de mortos e sofredores pelas regras externas obrigados a conviver.
Apesar de tudo isso, quando em 11 de setembro de 2001 as organizações terroristas atacaram os prédios que ostentavam a soberania (os mais altos do mundo) e o poderio econômico norte-americano, além do prédio do Pentágono e a tentativa de atingir a Casa Branca, a intenção não era matar pessoas e sim atingir os corações econômico e político dos EUA. Matar pessoas foi conseqüência, assim como os EUA só querem o petróleo e o mercado do Oriente Médio: submeter pessoas ao descaso e à pobreza é conseqüência.
A religião muçulmana é realmente um ponto importante para compreender as ações dos grupos resistentes do Oriente Médio. A força da palavra religiosa que permitiu a não aceitação de ações e posturas exógenas à sua cultura A maioria do povo muçulmano, e também muitos de seus líderes, não querem homogeneizar o mundo em islamismo, mas querem manter seu direito de não serem homogeneizados pelo sistema de miséria estrutural capitalista.
Ressentimento pelos milhares de mortos inocentes em 11 de setembro, sim. Assim como pelas milhões de vidas perdidas e oprimidas por todo o mundo.
Como ato político, foi um memorável tapa na cara do capitalismo, mostrando que nem todos aceitam se transformar por idéias vazios de significado social. Não defendo nenhuma seita religiosa, muito menos morrer ou matar por algum deus, assim como por uma bandeira nacional ou política. Porém, admito alguns conceitos religiosos (que obviamente podem ser interpretados e distorcidos de formas nocivas), e alguns destes, na religião islâmica, são fundamentais para manter o direito de crer e/ou ser livre, à maneira que cada um acredite ser a liberdade.
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