segunda-feira, 18 de maio de 2015

Política no Ensino

Nem me digno a ler alguns "jornalistas", especialmente da Veja, porque quero evitar ao máximo bufos na frente do computador e sentimento de ódio, que hoje é tão latente no Brasil. Por isso, na maioria das vezes, passo serena pelas manchetes.
Mas, como uma coluna estava se referindo à minha categoria, de professores, decidi ler, até porque procuro sempre ser o mais imparcial possível nas minhas discussões em sala de aula e, por isso, considero minha prática o mais neutra possível.
Rodrigo Constantino levanta uma afirmativa generalista para anunciar que professores gaúchos divulgaram nota de repúdio à iniciativa de uma atividade de palestra de uma ONG intitulada "Escola Sem Partido" (fundada, vejam só, por um deputado, DE UM PARTIDO!), que, pelo que entendi, falaria sobre a tal "doutrinação marxista" tão assustadora nas escolas atualmente.


Então, destrinchei alguns pontos da coluna. Antes de começar, como já sinalizei, não faço propaganda partidária em sala de aula, até porque não me identifico plenamente com nenhum partido, e acredito ser equivocado querer incutir determinada OPINIÃO PESSOAL e forma de pensar a sociedade em um espaço que deve ser prioridade o desenvolvimento autônomo e livre do pensamento e dos cidadãos. Ainda assim, indo contra o autoritarismo de ambas as partes, não podemos privar os estudantes de estudar e discutir a realidade sobre diversos espectros, e quando eles se deparam com essa realidade, é inevitável conduzir a reflexão a temas mais profundos e desenvolver a política, que, em sua raiz, é a discussão do que é público.

Política nada tem a ver com partido. "Politizar" não é sinônimo de "partidarizar".
Autonomia, cidadania, não são (ou não deveriam ser) "agenda partidária", são conceitos e concepções de sociedade que oferencem o direito das pessoas a pensar e a desenvolver suas próprias concepções.
O pensamento de Paulo Freire, demonizado nessa nossa onda de intolerância que o país vêm enfrentando, afirma a possibilidade nula da existência de neutralidade no Ensino, além de trabalhar com o desenvolvimento da autonomia e valorização das experiências dos estudantes, como produtores do conhecimento. Novamente, neutralidade PARTIDÁRIA é essencial para conseguirmos estabelecer diálogo e ampliar o espectro de informações as quais os estudantes são colocados a refletir sobre.Nesse sentido, não concordo com ordens de repúdio a espaços de expressão de opiniões diferentes, se esse fosse o caso. Neutralidade política é uma discussão sem sentido, porque trabalhar em sala de aula contextos sociais de discriminação, desigualdades, sitema econômico, é inevitável e meio impossível de contradizer o real: "A pesar de vermos favelas e condomínios de luxo, a desigualdade não existe, turma!".
Ditadura cubana? Não precisamos utilizar termos depreciativos ou endeusadores. É só trabalharmos Índice de Desenvolvimento Humano, taxas demográficas e suas interpretações para que OS PRÓPRIOS ESTUDANTES, tirem suas conclusões.
E não se preocupe, querido Rodrigo. Já fiz uma experiência em que citei nomes de países em uma tabela, e os dados foram totalmente ignorados na resposta, por declarações preconceituosas e de senso comum. Tirando os nomes, as respostas foram outras. Então, a doutrinação e o espaço de socialização midiático, infelizmente, ainda é muito mais eficiente na constituição dos sujeitos do que o estímulo ao pensamento e desenvolvimento do conhecimento proposto em algumas escolas, por alguns professores. Meu caso.

Em tempo... "ideologia", para o "tenebroso" Marx, é uma mentira. Então, trabalhar ideologia e desmascarar ideologias na sala de aula, não deveria ser tão mal visto assim. Só se você ainda quer que a ideologia impere.
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