As concepções sobre as coisas são diferentes entre as pessoas, então não é justo falar sobre "libertação" como se existisse apenas um caminho para tal.
É impressionante, falar sobre "lavagem cerebral" é comum, é cotidiano, mas ter consciência e percepção de que se está sofrendo uma lavagem cerebral é péssimo, porque é algo que você sabe que é péssimo, é nojento, e você não consegue sair dessa.
Alguns podem dizer que "libertação" é se ver livre de qualquer padrão a seguir, se ver livre de qualquer regra imposta para se viver, para se pensar. Outros dizem que "libertação" é se libertar dos desejos mundanos, de se livrar dos pecados, que "libertação" é servir e amar a um Deus que irá te tornar livre se você for gente boa. Até aí tudo bem, são conceitos que cada pessoa tem, diferentes. Mas, a religião se torna uma prisão justamente pela pregação. Se não fosse essas toneladas de induções, essa tonelada de informações, de imposições, de ameaças sobre "Deus", a religião não seria uma coisa tão abominável por pessoas que querem libertar seu pensamento dos padrões, esse padrões que isolam uns aos outros por comunidades, credos, culturas e nacionalidades.
Você liga a TV, e recebe dezenas de propagandas sobre cantores góspeis, gospels, ou sei lá eu qual o plural correto, recebe mais dezenas de propagandas sobre igrejas, sobre campanhas religiosas. Você vai ver um programa na TV, e tem mais gente te impondo a religião, tentando te convencer as pessoas de que não se pode ser feliz sem "Deus em nossas vidas". Aé minha banda favorita veio com uma estrofe dizendo "Porem estou disposto a entender o que eu sinto, E mostrar o quao forte eu sou para... Acreditar em voce" (claro, uma canção pode remeter a várias interpretações, mas vai que não se encaixa direitinho). Você participa de comunidades que a princípio não possuem ligação nenhuma com religião, grupos que tratam de doenças, de psicologia, e volta e meia surgem várias pessoas com o mesmo argumento de "Deus no coração". Mas, nesse caso, nos transtornos psiquicos, eu me pergunto: se a solução pra essa pessoa é se apegar em Deus, que ele cura tudo, porque essa pessoa ainda sofre dos mesmos problemas que um "pagão" sofre?
Até os grupos ateus vivem sua vida em função da religião. Não quero aqui generalizar, é claro que nem todo ateu é obcecado com essa história, podem ser pessoas bem resolvidas e despreocupadas com isso, mas os grupos que eu tenho acesso, grande parte das coisas acontecem assim, tentando desacreditar religiões e místicas.
Religião é um conceito macabro, nos deixa presos a ela, mesmo que queiramos distância dela. Claro, ela pode ser "benéfica", de algum ponto de vista, mas mesmo assim, você tem que se manter preso a ela. É uma ferramenta útil essa. Em tempos como os de hoje, é assustador se sentir sozinho, é um mecanismo para não nos desesperarmos, pra não nos sentirmos sozinhos e "impotentes" com essa desgraça coletiva, mas ninguém pára pra pensar porquê as coisas estão assim, se o "Deus Onipotente" estava lá pra ser justo, mas não foi.
Isso faz uma "lavagem cerebral" nas pessoas. Eu, por exemplo, não que eu abomine a idéia de um Deus, só não quero viver minha vida sendo obrigada a venerá-lo. Mas eu não consigo isso, eu passo por problemas, e logo já penso que estou sendo "castigada" porque "ignoro" a existência de um "deus". Isso não é uma prisão? Não é uma prisão você querer ser apenas feliz, e ser "obrigado" a ter de dedicar uma porção da sua vida em templos, em rezas, nossa vida que é tão curta e é única, em dedicar 1/3 do seu tempo a pedir, a agradecer e a venerar um ser que é tido como o "justo", o "onipotente" e "onipresente", mas que deixa o mundo do jeito que está, que "dá" doenças a pessoas boas, que "tira" a vida de pessoas boas, e "deixa" os corruptos viverem num mar de grana. Sim, há quem diga que "depois da morte temos nossa recompensa", mas peraí, ninguém me garante que meu espírito vai se perpetuar e que vou aproveitar tudo de bom, e ser compensada por tudo que sofri na vida, se eu vivê-la venerando um Deus tão injusto.
É isso, é essa a lavagem cerebral. Eu acordo no meio da noite com a cabeça a mil, e a primeira coisa que penso é que "é castigo eu não dormir bem por eu 'rejeitar' Deus". Esse tipo de mecanismo é o que me faz lutar contra essas imposições, é perceber a tamanha palhaçada que a sociedade religiosa tenta nos incutir, tenta, e consegue nos fazer ter medo, nos fazer agregar a ela todas as alegrias e infelicidades da vida.
Por mais que pudesse ser saudável pra mim, especificamente, não me sentir sozinha, transferir minha cura para um ser superior, por sofrer de problemas psiquicos que atrapalham por demais a minha vida, por mais que uma religião, uma bitolação pudesse me fazer ESQUECER meus problemas, pudesse me fazer enganar que meus problemas estavam sendo solucionados (pensando assim, é bom por um lado, mas voltamos à prisão por outro), eu não quero, eu vou lutar sozinha pra me sentir bem e ser uma pessoa LIVRE. Mesmo que minha cabeça sofra, mesmo que minha vida sofra, mesmo que o medo de ser "castigada" exista lá no fundo, eu vou sentir que estou fazendo o certo, o que minhas idéias e minha consciência manda. Não vou deixar o subconsciente do medo me levar pra um caminho que não considere conscientemente o certo. Mesmo que eu acorde no meio de todas as noites da minha vida me sentindo castigada, afinal, o sub-consciente (onde vive nossa "massa de manobra") é mais evidenciado quando dormimos, quando estamos com sono. Mas durante o dia, com o consciente bem aceso, eu sei que estou fazendo a coisa certa.
Dane-se meu sub-consciente.
Isso pode ser considerado uma pregação, mas é uma pregação para mim mesma, afinal, todos de fora pregam religiões, eu mesma, sozinha, preciso pregar a mim a consciência.