sábado, 23 de agosto de 2014

Ah, os esteriótipos...

Percebi isso já no ano passado.
No segundo ano do Ensino Médio leciono em Geografia, basicamente conteudos sobre população. Depois de discutir exaustivamente taxas demográficas, o que indica sobre a sociedade de um país altas taxas de natalidade (basicamente, falta de estrutura e acesso à informação, além de fraca inserção da mulher no mercado de trabalho), altas taxas de mortalidade (saúde pública fraca, dependendo dos índices, conflitos, etc). Além disso, dicutimos teorias demográficas, dentre as quais a da Transição Demográfica defende que cada país do mundo passa por 4 fases de desenvolvimento, em momentos distintos, que seriam a alta natalidade e mortalidade, posterior queda na mortalidade, diminuição dos índices da natalidade, e por fim, equilíbrio das taxas populacionais.
Pois bem, em uma avaliação, coloquei a seguinte tabela, baseada em dados oficiais, e pedi para que eles escrevessem sobre as condições de cada país, com base nas taxas demográficas apresentadas:

Segundo nossas discussões durante o trimestre, resumidamente a resposta deveria conter os seguintes aspectos:
a. A mortalidade do Brasil é a menor, o que indica uma melhor expectativa de vida que é consequencia de avanços na saúde e prevenção de doenças;
b. A natalidade em Cuba é menor, o que indica mais acesso à informação, possível inserção da mulher no mercado de trabalho, e mortalidade relativamente baixa também indica uma saúde de qualidade;
c. Nos EUA, a mortalidade tambem pode ser considerada baixa, mas em índice não melhor que Brasil e Cuba, e a taxa de natalidade não é alta, mas, de acordo com a teoria da Trasição Demográfica, deveria ser menor, já que é um país considerado desenvolvido e, por isso (acesso à informação, inserção da mulher no mercado de trabalho, entre outros fatores), deveria apresentar maior queda na natalidade;
d. Na Somália, segundo os dados, a população tem muito pouco acesso à informação e provavelmente é uma sociedade baseada na atividade agrícola, o que pode explicar parte do problema da natalidade, já que as crianças podem contribuir com a renda da família. Além disso, a alta mortalidade indica problemas na saúde e possivelmente conflitos.

Entretanto as respostas não foram tão extensas, o que não é tanto um problema. O que mais me impressionou foi o fato de que os dados foram totalmente deixados de lado quando eles "analisavam" a primeira coluna (a dos nomes), e já se punham a desenvolver respostas que alegavam que Cuba era um país pobre e de difíceis condições de vida, o Brasil era horroroso e que os EUA era a perfeição em forma de sociedade. Minha intenção não era, não é, e nunca será, impor aos meus alunos minhas concepções de verdade, mas acho interessante incitar a reflexão sobre as verdades construídas através da voz dos outros (como quando me pediram um debate sobre a Coreia do Norte e procurei levar noticias que ressaltassem ambos os lados). Pra testar se foi eu que não trabalhei o conteúdo direito, ou se realmente o primeiro impulso das pessoas era julgar pelas aparências, na prova de recuperação coloquei a mesma tabela, sem os nomes dos países:

Nesse caso, tive respostas mais coerentes quanto à análise das taxas demográficas e o que elas expressavam sobre as condições econômicas e sociais dos países.
Preciso concluir esse raciocínio??

Ontem eu estava lendo que em todos os continentes do mundo, existe a tendência da população não se interessar por músicas que não sejam de língua inglesa ou a língua nativa. Eu mesma, quando ouvi pela primeira vez uma banda espanhola (que hoje é uma das minhas "top 3"), achei bem esquisito, nem tanto pelo estilo (ska punk), mas pela forma que o espanhol soou em meus ouvidos. Ainda bem que insisti em ouvir, porque aprendi muita coisa com as músicas e sou bem menos preconceituosa com ritmos diferentes.

Outra situação que me remete ao preconceito sobre os esteriótipos: não sou muito popular no Facebook (nem em lugar algum), mas sempre que posto alguma reflexão (principalmente das mais indignadas), sempre tem umas 6, 7 pessoas que vão lá e curtem. Esses dias coloquei um desabafo mega reflexivo sobre hipocrisia, daqueles que todo mundo curte, querendo dizer "eu não sou esse tipo de pessoa", só que junto coloquei o clipe de uma música chamada "Struck a Nerve", de uma banda chamada Bad Religion. Muita gente vê essa banda com maus olhos por imaginar que seja algum tipo de "adoração ao mal", mas a mensagem é bem menos satânica: que religiões são ruins. Vá lá, não é tão ofensivo quanto "adorar o demo". Mas o que as pessoas enxergam quando vêem uma banda de rock, com o nome Bad Religion? Satanismo! E aí ninguém curtiu.


"Deu nos nervos" - Struck a Nerve [trecho traduzido]

Existe um velho homem num ônibus urbano
segurando um doce
E não é nem natal
Ele vê numa nota no obituário
que seu último amigo morreu
Há uma criança agarrando-se à
sua mãe acima do peso no frio
Enquanto eles vão comprar cigarros
E ela gasta seu último dólar
numa garrafa de vodka pra hoje a noite
E eu acho que isso deu nos nervos
Como se tivesse que virar meus olhos
Você nunca consegue sair
da linha de mira

[...]





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