quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Ai, minha coluna!

Esses dias eu estava assistindo o filme "Marley&Eu", e prestei atenção no dilema profissional do John, tutor do Marley. Ele era jornalista de formação que se viu por necessidade escrevendo colunas, e se descobriu.
Eu sempre remeto a palavra "coluna" a aquela estrutura enorme que nos sustenta. Mas pelo que tenho percebido, a diferença entre uma coluna - modalidade de texto - e um artigo, é o caráter menos formal do primeiro. Já intitulei meu blog em outro momento de "Crônicas de uma mente moldada e partida", numa época em que escrevia textos mais pessoais e filosóficos.
Ultimamente, as coisas que me instigam a escrever são temas específicos, raros os que consigo parar na frente do computador e escrever algo, que eu considere emitir a minha opinião e informar ao mesmo tempo. E isso, creio, é o que caracteriza uma coluna.
E o trocadilho com a estrutura que nos mantém de pé, e todo mundo já sentiu algum desconforto, seja vindo dela, seja refletindo nela.
Taí.

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Economia doméstica??

Eu não entendo muito de Economia, mas aprendi que é importante evitar generalizações e simplificações exageradas. As coisas do mundo e o mundo são muito complexos pra analisar tudo sobre o método indutivo. 

Para justificar a governabilidade do atual governador do Rio Grande do Sul, vejo economistas na mídia relacionarem a gestão das finanças de um estado da federação como gerimos as finanças da nossa casa: ora, se não temos dinheiro entrando, não podemos gastar. Mesmo que aceitássemos essa comparação simplória, poderíamos fazer uma analogia que demonstra a falta de humanidade e consciência social do nosso governo gaúcho. Vejamos:

Eu vivo controlando as minhas contas. Procuro gastar o que tenho, dificilmente consigo juntar poupança. E aí, minha mãe descobre um câncer. O que eu vou fazer? Não tenho dinheiro, ele está contadinho todos os meses. Vou deixar minha mãe definhando até a morte? Não, eu vou buscar recurso de onde eu puder e não puder para tentar manter a saúde dela, a vida dela. Vou me endividar em agências de crédito, vou deixar de comprar a roupa top do fim de semana, mas vou fazer de tudo para conseguir recursos para manter a saúde da minha mãe. Vou pagar médicos capacitados pra isso, meu dinheiro também precisa cobrir a capacitação desses profissionais que vão tentar salvar a vida da minha mãe.

E o que o governador faz com a saúde pública? Ao invés de mexer a bunda da cadeira e buscar recursos, não, simplesmente não repassa estes e coloca a culpa no funcionário que precisa ser pago. E ele precisa ser pago por que se aperfeiçoou bons anos da vida para prestar serviço aos cidadãos.

A preocupação capitalista é sempre com o dinheiro, nunca com o cidadão. Eu vou ficar devendo pra banco? DANE-SE, as pessoas estão morrendo em salas de espera de hospitais, a prioridade deve ser as pessoas, os cidadãos que elegem seus governantes para gerir a manutenção dos serviços públicos.

Mas... vou sair dessa comparação simplista que, ainda assim, desbanca o argumento dos economistas/jornalistas pra justificar a forma de governar do governador Sartori.

Não creio que gerir a economia de um estado ou país seja como gerir as contas da casa. Eu tenho um salário, eu procuro gastar o que tenho para pagar minhas contas [nossa, como é difícil fugir das generalizações que nos afogam, eu já ia escrever mais uma comparação simplista; entrementes, é cansativo, doloroso, pensar além, mas é o que devemos fazer para sermos conscientes e nos desenvolvermos como indivíduos e cidadãos]. As relações de poder que permeiam a manutenção da economia de um estado, vão muito além do meu problema com a fornecedora de energia elétrica que cortou minha luz. O poder econômico o qual nossa sociedade está colocada se utiliza das armadilhas mais imorais, porém legais, para controlar o que podemos ou não fazer ou ter acesso.

Manter os repasses e pagamentos em dia quando a receita é pequena não é fácil, de fato. E ficamos amarrados a acordos e favorecimentos a entidades que muito têm, e pouco dão retorno à sociedade. A política do governo do Rio Grande do Sul atualmente, está presa no conceito de que a salvação pra tudo são os empresários, as empresas que abrem e os empregos que geram. Mas, além de emprego, muitas vezes mal remunerado, o que mais esses empresários oferecem à sociedade? São tão carentes assim, que precisam de abonos e benefícios fiscais, deixando de gerar arrecadações bilionárias ao estado?

Admito que é doloroso, de fato, ir na contramão desse jogo de poder do "eu posso investir, mas só invisto com um retorno do qual eu nem preciso tanto, mas vai me gerar mais lucro". É doloroso porque se dizemos "não" para alguém que pode te ferrar, certamente esse alguém vai te ferrar. 

Mas o ajuste precisa ser feito. É não é aquele ajuste da economia doméstica, simples, de deixar de investir em algum bem-estar para suprir necessidades básicas. É um ajuste de dar a cara à tapa, de nos posicionarmos, ou de o governo se posicionar, sobre de que lado nos estamos, se é do lado desse jogo econômico, ou se é do lado das pessoas, que precisam de saúde, educação, segurança e comida. A quem eu devo dar prioridade, e aguentar as consequências. Sabemos que gerir qualquer instituição pública não é fácil, mas se está no caminho certo quando as prioridades são humanas e sociais.

Não espero que essa postura surja no governo claramente neoliberal do PMDB gaúcho, mas, por favor, jornalistas e economistas, não insultem nossa inteligência comparando minhas comprinhas mensais com a complexidade do poder político e econômico que define as finanças de um estado.


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