segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Aborto e o Brasil

     Quando conversei com minha mãe e meu namorado sobre a legalização do aborto, rebati alguns argumentos deles falando que nos países onde o aborto é legalizado, houve também investimento em conscientização e prevenção e os números de abortos, ao contrário de aumentar diminuiram e que por isso, eu era a favor da legalização do aborto. Mas por palavras como as da minha mãe, que confundem o apoio à LEGALIZAÇÃO do aborto com o apoio AO ABORTO, que penso que essas medidas possam não dar certo no Brasil como deram em outros países. 
     Minha mãe tem aquele pensamento comum dos brasileiros de definir o que é melhor para o país, para 200 milhões de pessoas, a partir de experiências pessoais. Ela é contra o aborto porque perdeu uma filha ainda na barriga, e por ter sofrido com essa perda não consegue aceitar que alguém não queira assumir uma criança. Não condeno ela, muito longe disso, por assumir esse pensamento. Que ela vá desprezar cada pessoa que ela saiba que tenha cometido um aborto, mas ela deve respeitar a decisão de cada uma delas. Não acredito em deus e em poderes que ele possa ter sobre nossas vidas a partir da nossa adoração ou não à ele, mas não desrespeito ninguém que tenha esse pensamento, essa decisão sobre sua própria vida (desde que, como sempre, não desrespeite a minha decisão).
     Assim como, quando levantei os fatos que me levam a ser favorável à legalização do aborto, ela, e outras pessoas que souberam do causo, já levantavam o dedo para fazer julgamento pessoal da posição: "Ahhhhhh, então tu farias um aborto? Então vais abortar quando engravidares??". Quando penso em legalizar o aborto, mal penso em mim, que uso os métodos contraceptivos tradicionais até com excessiva cautela, justamente porque não me sinto preparada hoje para ter, criar, educar e mudar minha vida por ter um filho, e muito menos preparada para tomar a decisão se devo ou não aceitar essas transformações na minha vida. Mesmo que o aborto fosse legalizado, manteria minhas precauções porque o simples fato de decidir se faria ou não um aborto já exige uma enorme reflexão e maturidade da mulher que cogita a possibilidade. Agora, se eu tivesse de tomar essa decisão tão importante, gostaria que eu pudesse decidir sobre meu futuro, porque sei que eu, minha personalidade e meu modo de ver a vida, seria extremamente infeliz na vida se fosse obrigada a tomar uma atitude que não desejo (seja querer ter um filho e sofrer aborto, seja não querer um filho e ser obrigada a tê-lo).

     Aí, depois dessa discussão, até construtiva em casa, veio as eleições. E os resultados finais e parciais me fazem ver que o Brasil, a população e sociedade brasileira não está preparada para viver com direitos. O direito, pelo brasileiro em geral, é visto como uma "regalia que me dá o poder de fazer o que eu bem entender", como se o direito dissesse respeito unica e exclusivamente a mim, como se não vivêssemos em uma sociedade brasileira e mundial, onde tudo o que fizemos e apoiamos tem repercussões na vida dos outros. "Eu não voto no fulano porque ele não deu aumento à minha categoria" ou "eu voto no fulano porque ele prometeu que vai dar remedio para mim que sou aposentado". Eu não olho para a sociedade à minha volta, para as pessoas à minha volta, eu só quero mais, só estou interessada no que vai gerar algum tipo de benefício a mim. 
     A sociedade brasileira está doente, e eu não sei por onde começou isso. Talvez com os reis de Portugal lá na colonização, já que eram esbanjadores e estavam nem aí para o futuro ou para o povo. Sei lá. Tentei embarcar na Sociologia, mas me perdi por motivos pessoais, mas não sei se entender o processo faria eu me sentir melhor. Talvez eu teria mais vontade ainda de sentar na minha vidinha pacata e assistir ao apocalipse, ou suicídio social.



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