sexta-feira, 14 de março de 2014

Não sou petista.

Nem de longe sou petista. Ainda não abstraí, ou sempre confundo, a diferença entre apartidário e antipartidário, mas o fato é que eu não voto em partidos, por mais que me digam que quando eu aperto o botão verde eu estou votando no partido.

Hoje vivo em uma cidade que é governada em seus três níveis pelo PT: o municipal, o estadual e o federal. Pessoalmente, ainda não vi nada de execrável na política de governo municipal que está no poder fazem quase dois anos. Claro que eu queria que muita coisa já estivesse melhor, já que por dezesseis anos as únicas coisas que víamos serem feitas na cidade era a carpintaria dos canteiros da cidade e um acúmulo de buracos pelas ruas fruto de mal planejamento (asfalta, pra depois pensar em escoamento). Queria que já estivesse em andamento a promessa da UPA na Junção, por exemplo. 

Entretanto, ouço muitas pessoas, das quais considero sensatas, assinalando melhorias na qualidade de vida da população. Os postos de saúde não estão piores que estavam, e ainda, têm mais medicos para realizar atendimento (eu mesma precisei usar, e fiquei surpresa com a rapidez no tempo de espera), os ônibus já não estão mais tão superlotados (gente em pé é normal), até a tranqueira da rótula da Junção deu uma leve aliviada com a redução de ônibus entrando e saindo daquele espaço. A qualidade e a valorização do serviço publico também parece estar melhorando. Não defendo o PT, mas devo admitir que vejo alguns progressos sociais na cidade desde 2013. Também devo falar que as ruas não estão mais tão coloridas, mas, afinal, o que importam são as pessoas e não as plantas!

Sobre o governo estadual, nas mãos do PT a mais de três anos, aí sim, não tenho nada de bom para falar. Discordo da maneira autoritária com que o governador impõe suas regras e a forma nada educada com que se direcionou aos professores (classe a qual pertenço) quando reivindicavam seus direitos. Não somente os professores, mas pouco ou quase nada foi atendido de reivindicações por melhorias em todos setores sociais. Faço críticas ao meu irmão quando falo que ele é individualista ao condenar o governo federal por não atender às reivindicações da categoria dele, mas aqui posso também estar sendo individualista, mas porque me ofendi profundamente com a postura irônica do governador perante as reivindicações dos professores estaduais. Me senti mais ofendida do que desatendida em minhas necessidades.

Desde 2006, quando entrei para a universidade federal, desenvolvi todos os meus estudos e carreira profissional durante os mandatos do PT no governo federal. Como nunca puxei saco de professor pra conquistar bolsa de pesquisa, sempre fui assistida pelo programa federal de Bolsa Permanência e recebia benefício de redução de passagem de ônibus; recebi subsidio para apresentar trabalhos em outras universidades, quando solicitei, e conclui o curso de graduação em uma universidade federal gratuíta.

Quando precisei de emprego no mercado de trabalho, consegui sem muita dificuldade (o que significa que fui beneficiada com o aumento de postos de trabalho anunciados por anos nas propagandas eleitorais), e minha qualificação lá na universidade federal me possibilitou ser aprovada em um concurso público estadual que oferecia mais de 10.000 vagas e somente pouco mais de 5.000 foram preenchidas.

Particularmente, gosto da postura do ex-presidente e da atual presidente em muitas de suas colocações, pois acredito no desenvolvimento que vivi e vivo no país, onde vejo, de fato, mais oportunidades para os que não podem "comprar" tudo, como por exemplo eu, que sem uma universidade federal, jamais teria concluído uma graduação no ensino privado. Por mais que discorde, por exemplo, do incentivo excessivo ao consumo e à priorização de politicas de governo voltadas para o crescimento econômico, os setores sociais também evoluíram desde 2002. Podemos fazer ressalva quanto ao "assistencialismo", mas o verbo assistir, de dar assistência, não significar simplesmente "dar"; o assistente de dentista não faz o trabalho do dentista, faz? Ele só oferece apoio às suas atividades autônomas.

Enfim, discussão política é extensa e infindável, mas hoje em dia tem sido impossível fazer isso sem surgirem ofensas pessoais ou pensamentos preconceituosos ou radicais. Não apóio o PT, não sou petista, mas tenho que admitir que a década de 2000 foi muito melhor que a década de 1990. Não digo que apoio o(s) programa(s) de governo(s) do PT, só admito que algumas medidas estão se convertendo em ganhos sociais. Por mim, todo o mundo seria como em Marinaleda, e ninguém cobiçaria o carro do outro e se martirizaria de inveja da vida de outra pessoa.

quarta-feira, 5 de março de 2014

Proibir máscaras: Afinal, repressão ou democracia?

Estava eu hoje, na inocência da sala de espera de um consultório médico. E o que tem num consultório médico? Revistas velhas. Revistas Veja velhas. Eis que pego uma aleatoriamente, folheando as páginas, distraída... propaganda, pequenas notas, propaganda, propaganda, umas 3 ou 4 páginas de entrevista com o maravilhoso, espetacular, criativo e irrelevante Manoel Carlos (que, aliás, do nada, em meio a uma conversa sobre Helenas, surge uma pergunta e resposta sobre o atual governo - crítica, certamente), propaganda, e uma reportagem de duas páginas sobre os conflitos na Ucrânia. Nesse ponto, voltei à capa e percebi que a edição era de 29 de janeiro deste ano (parabéns, doutor! revistas só dois meses atrasada, é um avanço - dessa vez, sem ironia; ok, um pouco).
O título dizia " O fogo cruzado de Kiev". Corrijo-me: a reportagem ocupava duas páginas, entretanto, grande parte era preenchida por uma impactante foto de fogo e destruição, e outra com padres em meio ao conflito. A reportagem fazia alusão às outras manifestações vivenciadas nos últimos dois anos, como na Síria e no Egito, e argumentava que os conflitos só acabam quando "o mais forte, consegue se sobrepor ao mais fraco". No caso da Ucrânia, separam os lados em - o governo opressor - e - jovens comuns, pessoas direitas, em busca de melhores condições de vida.
A reportagem segue dando mais alguns detalhes importantes para a compreensão do conflito; ela não chega a ser "imparcial" (o que é óbvio, sendo uma reportagem publicada na revista Veja), mas um leitor mais atento e com olhar mais relativo consegue compreender a questão abordada sem ser levado para um dos lados - sem contar a inclinação em tratar tudo que vem do governo como "repressor", "atrasado", e encerrar a reportagem com "eles (o povo) não querem que seu país receba ordens dos russos" - acredite, isso é o mais perto do imparcial que já li nas Vejas de sala de espera.
Mas o que me chamou àtenção foi o seguinte trecho:
"Os protestos arrefeceram e, na semana passada, Yanukovich obteve no Congresso a aprovação de um conjunto de leis, inspiradas nos mecanismos de repressão a opositores da Rússia, que proíbe o uso de máscaras e capacetes nas demonstrações e as carreatas com mais de cinco veículos (...) O povo voltou às praças nevadas, desta vez dispostos a quebrar tudo. Manifestantes lançaram coquetéis molotov contra os soldados, que responderam com balas de borracha. Cinco pessoas morreram. O governo ucraniano demonstrou estar bem alinhado com a estratégia russa de intimidação dos cidadãos (...)".
Destaco os trechos " mecanismos de repressão", ao se referirem às leis que incluem a proibição do uso de máscaras (entende? é "repressivo" proibir o uso das máscaras), além das passagens que reproduzem a violência das manifestações sob um ângulo que a torna "justificável".
Aí eu penso na situação do Brasil. Também lançaram o projeto de lei que próibe o uso de máscaras em protestos no Brasil. O que dizem os jornalistas da Veja?
Primeiro, reportagem que não abre a perspectiva de repressão da medida:

Segundo, apresenta a crítica ao uso de máscaras em protestos:

Terceiro, a coluna de um jornalista que diz que "a medida me agrada":

Fazendo uma pesquisa rápida encontram-se vários exemplos onde a medida é apresentada sempre como uma forma de tornar as manifestações mais "legítimas", e tratam os manifestantes brasileiros como "vândalos". Não vou dizer que não me tapo de nojo das criaturas que aproveitam a loja depredada para levar uma TV de LCD pra casa, mas lendo outras fontes, entendo a simbologia de destruir espaços de reprodução do capitalismo, muitas vezes brutal. Quem nunca ficou p*** com o juros do banco, em alguma situação? Vai dizer que você não sente uma pontada de inveja por que trabalha 44 horas semanais durante 335 dias do ano para ganhar pouco, enquanto o rico aparece na revista Caras gastando milhões em um só dia? Você também quer esse luxo? Ok, eu também quero, mas o que faz uns terem e outros não, é que o sistema capitalista tira de você para das para o outro. Infelizmente é assim, e nem quero dizer aqui que o capitalismo é de todo ruim (pelo menos, por enquanto... vá que eu leia mais sobre isso e acabe não vendo mais lado positivo). Só quero dizer que a ideia de destruir bancos e lojas vêm da concepção de atacar símbolos do capitalismo e da espoliação.

Enfim... tudo isso porque achei curioso, mais uma vez, encontrar evidência de como é volátil a opinião da direita/reacionários/ricos/qualqueroutraclassificação, dependendo da situação em que quer defender...

Ucrânia

Brasil

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