terça-feira, 25 de agosto de 2009

Banho de Hipocrisia

Eu estava pensando, como é inevitável pensar, já que temos de agüentar um sensacionalismo absurdo em cima disso, quanta hipocrisia do povo. Mas não é proposital, tenho certeza, dessa vez.
Gripe A, gripe suína, Influenza A. Gripe, vírus, doença respiratória. Mas que inferno! Hoje as pessoas decidiram lavar as mãos, usar álcool gel... resolveram tomar atitudes que deveriam ser automáticas de higiene e educação. Tudo por causa de uma gripe que mata menos que a gripe do ano passado, tudo por causa de um vírus simples como tanto milhares de outros que vivem no meio de nós há tantos séculos. Agora as pessoas descobriram que existem coisas que não podemos enxergar, e não é um deus: são vírus e bactérias.
Minha mãe me emprestou álcool gel para eu levar esses dias que fui ao centro: “usa quando descer do ônibus!”. Mas eu toquei nos ferros do ônibus, me sentei no banco, e quase que involuntariamente toco em outras partes do ônibus, e coço os olhos (tenho uma maldita alergia). Ora, pra pegar o álcool na minha bolsa, eu toco-a, toco em mais um monte de coisas que levo antes de encontrar o frasco, então limpo as mãos com o álcool, torno a tocar na bolsa e nas coisas que toquei antes, que estão infectadas com vírus, outros vírus. Então, me “contamino” de novo.
Estava eu mais uma vez no ônibus, dessa vez lotado, eu estava em pé, no frio que faz aqui no Rio Grande. Janelas escancaradas, absolutamente todas, percebi. Inutilmente, fechei as duas janelas diretamente a minha frente; inutilmente, porque a ventania vinha de todas as janelas abertas. Ora, eu tenho rinite, tive sinusite há poucas semanas, depois eu pego um vento “encanado” no ônibus, saio cheia de dor de cabeça, nariz escorrendo, e fico achando que peguei gripe suína [isso, deve acontecer com muitas dessas pessoas que, desesperadas com algo que sempre existiu, pegam frio, adoecem e se fo***]. Então, um rapaz do meu lado, cinco minutos depois de eu ter aberto a janela, foi lá e fechou. O que eu podia fazer? Aquele involuntário gesto negativo com a cabeça, pensando comigo mesma coisas abomináveis sobre o indivíduo.
O vírus não “avoa”, meu caro colega de coletivo! A “orientação” de manter o ambiente arejado é simplesmente porque o vírus sobrevive mais tempo em ambientes fechados e quentes. Aliás, isso era o que dizia no cartaz do ônibus, o que acho muito estranho, porque as aulas foram adiadas nas escolas com a informação, pela imprensa, de que o vírus ficava mais resistente no frio. Mas bem, vamos considerar a informação do ônibus, porque eu estava em um ônibus. O que o cara estava pensando? Que abrindo a janela uma possível partícula de vírus que saísse de um coitado fosse “avuá” pra rua, ao invés de ir parar no seu nariz? Não! O vírus ia cair onde quer que deva, e se a anta tivesse contato com a superfície, e ainda teria de tocar em suas mucosas, ele pegaria gripe de qualquer forma!
Há tanto tempo vivemos com vírus e bactérias à nossa volta, cheias de pensamentos malévolos, doidas para se hospedarem em nosso organismo e nos debilitar. Mas a muitos, muitos séculos vivemos com a orientação de higienização para evitarmos o máximo possível de pegar alguma doença causada por vírus e bactérias. Na hora de trepar com qualquer um (a), esquecem de usar preservativo, e aí lá vai o vírus da AIDS com o sorriso escancarado e pensando “bem feito, sua besta, continua passando álcool gel nas mãos, com medo do meu colega H1N1, que ele só vai te dar uma gripezinha. Eu sim é que vou te fo***, vou debilitar suas defesas e afetar sua imunidade, aí, juntos, eu e o H1N1, vamos te matar!”.
Tanta gente morre todos os dias com doenças causadas pelas mais diversas bactérias e vírus, só porque não lavaram as mãos antes de comer, ou sentou num sanitário público, e agora todo o povão quer dar lição de moral abrindo janelas nos ônibus com frio a menos de 10ºC, esgotando os estoques de álcool gel nas farmácias. Vão é lavar a mão depois de mijar! Vão é lavar a mãos antes das refeições, depois de mexer com dinheiro. Vão é parar de beijar qualquer um nas festas, parar de passar a mão em qualquer porcaria que aparece pela frente! E me deixem fechar a janela do ônibus, porque quem vai passar semanas de molho com a cara carregada de ranho por causa de rinite e sinusite sou eu!
Meu pai disse dia desses: um dia, daí a muitos anos, vão ser listadas as “piadas do século”, e será dito “houve uma época em que o sensacionalismo agravou a atuação de um vírus da gripe, e as pessoas foram induzidas a comprar tubos e tubos de álcool gel, a escancarar as janelas no inverno tenebroso. As fábricas de álcool gel expandiram-se assombrosamente, e, além do laboratório que tem a patente exclusiva do medicamento que diziam combater a tal gripe, vários laboratórios e médicos lucraram uma ignorância com consultas desesperadas, e receitando medicamentos para combater rinite, sinusite, bronquite, e todas as doenças e infecções que são geradas com frio intenso. E as pessoas levianas, fracas de cabeça, caíram nessa grande história bem elaborada”.
Ele disse isso para provocar minha madrasta, que é meio obcecada com doença e segurança, e passa álcool gel nas mãos de cinco em cinco minutos. E claro que ele foi uma pitada irônico e exagerado propositalmente, mas pensando bem, ele pode até estar com toda a razão, e a história até pode ser mais macabra do que a criatividade dele em provocar minha madrasta.
Até o ano passado, todo esse povo que está “consciente” [“consciente” MUITO entre aspas] agora, viajavam no inverno com ônibus lotado e janelas hermeticamente fechadas por causa do frio. As janelas ficavam embaçadas de respiração contida, e nesse caso, poucas eram as pessoas que queriam abrir a janela pra respirar melhor. Até o ano passado, convivíamos com vírus e bactérias da mesma maneira, e o álcool gel quase não tinha saída nas farmácias.
Teorias conspiratórias à parte, higiene e educação são algo que todos devemos ter, mesmo sem nenhuma ameaça viral veiculada pelos meios de comunicação. E a ventilação do ambiente sempre foi importante para a circulação do ar, mas não que seja necessário morrer de frio para essa precaução.

Um comentário:

Joyce Abrantes disse...

Meu pai disse dia desses: um dia, daí a muitos anos, vão ser listadas as “piadas do século”, e será dito “houve uma época em que o sensacionalismo agravou a atuação de um vírus da gripe, e as pessoas foram induzidas a comprar tubos e tubos de álcool gel, a escancarar as janelas no inverno tenebroso. As fábricas de álcool gel expandiram-se assombrosamente, e, além do laboratório que tem a patente exclusiva do medicamento que diziam combater a tal gripe, vários laboratórios e médicos lucraram uma ignorância com consultas desesperadas, e receitando medicamentos para combater rinite, sinusite, bronquite, e todas as doenças e infecções que são geradas com frio intenso. E as pessoas levianas, fracas de cabeça, caíram nessa grande história bem elaborada”.
Nossa, ri muito disso! OHAEOUAEHAEOUH

Sabe, acho que há muito sensacionalismo em cima disso. Eu sei bem como é gente preocupada com alcool-gel e talz, porque minha mãe trabalha em hospital e criou uma paranóia em cima da gripe suína. E tu tens muita razão em falar que as pessoas ficam desesperadas com o vírus da gripe, sendo que não estão nem aí pra AIDS, por exemplo. Vai entender a cabeça das pessoas...
Mas é assim, mesmo. Ahh, e os exemplos não faltam, tipo, fugindo um pouco do assunto "vírus", também é o caso de que, a maioria tem medo de pegar doenças respiratórias e a fins, mas não está nem aí em entupir a cara de bebida e dirigir depois, colocando a própria vida e a vida de outras pessoas em risco.

Mas como meu pai diz: Sabe como é, não existe vacina para ignorância...

P.S.: sinusite é um saco mesmo! ><

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