domingo, 17 de novembro de 2019

Mais uma greve do Magistério do RS

Às comunidades escolares às quais faço parte:

Já começamos por aí, porque professor tem que se desdobrar em duas, três, quatro escolas para conseguir cumprir sua carga horária com um salário minimamente "possível".

Demorei muito para tomar essa decisão, porque os professores que fizeram greve em 2017 estão até hoje sofrendo as consequências da luta de três meses, ao lado e com o apoio fundamental dos estudantes.

O cansaço, desde lá, desde o último reajuste, desde o início do parcelamento dos salários, me fez estar desde outubro contando as semanas para finalizar o ano letivo e conseguir descansar a cabeça (e ter mais um tempinho pra formação continuada, pós-graduações, pesquisas e estudos pra concursos).

Os últimos anos, e esse em especial, têm sido de completo abandono da minha classe profissional por parte dos governantes e da sociedade. Só sofremos condenações de todos os lados, até chegar 15 de outubro e todo mundo postar que "professor é a mais importante das profissões".

O pacote de alterações no plano de carreira do Magistério que o governador encaminhou quarta-feira para a Assembléia, nos tira todas as perspectivas de melhora na profissão.

 Promete o piso (que é uma base mínima salarial), tirando todas as progressões por tempo, permanência, e aperfeiçoamento. Ou seja, torna o piso em teto (o máximo que podemos ganhar) e desestimula qualquer um a se qualificar para cada vez mais apresentar um trabalho significativo nas comunidades escolares.

Estamos ficando doentes com a falta de atenção dada à nossa categoria: depressão pela falta de perspectivas, ansiedade por ter de lidar com tantos problemas que os estudantes trazem das suas vidas para a escola, problemas físicos por esforço repetitivo e falta de dinheiro para tratamento adequado, etc.

Além disso, alguém já parou pra pensar qual jovem vai optar por cursar licenciatura quando souber que vai entrar no mercado de trabalho e morrer com pouco mais de 1.500 reais de salário?

É o fim da Educação Pública, é o fim da dignidade e esperança do trabalhador em Educação.

Então, por mais que eu tenha medo do governo e da desunião da categoria, por mais que eu esteja ansiosa para descansar a cabeça dos milhares de problemas escolares de centenas de crianças que enfrentamos ao longo do ano, ESTOU EM GREVE.

Ah, e por quê agora e não antes? Se fosse antes do pacote entrar na Assembléia, diriam que não teríamos motivo de entrar em greve, já que o "bom governador prometeu parar o parcelamento só no final do ano". E por quê não depois? Porque a Assembleia tem até final de dezembro para votar o pacote, e o foco é no que podemos mobilizar para amenizar o ataque desumano à nossa categoria. De nada adiantaria mais voltarmos 2020 em greve, pois o malfeito já estaria feito.

Enfim, ninguém, ninguém mesmo, queria essa greve a essa altura do ano letivo, mas é a nossa última chance de resistir. Depois, é só ladeira abaixo.

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