segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Não mude seu roteiro por um bom papel.

Por que as grandes mocinhas dos filmes, independente de qualquer outro adjetivo, são sempre amantes de poesia e de Shakespeare?
Por que alguém para ser interessante precisa ser culta, culta na cultura padrão? Por que não existe uma mocinha de filme que não se importe com poesia? Por que elas simplesmente não lêem o que precisam pra ser felizes? Mas não, elas lêem porque é isso que as distingue das outras disponíveis para o mocinho. Isso é a origem de um preconceito. Preconceito de dois lados. Eu, por exemplo, tenho preconceito com pessoas que se intitulam adoradoras de Nietzsche, não que ele não tenha sido uma pessoa considerável e extremamente inteligente (afinal, ele era ateu).
Por que a grande princesa de uma história não pode ser uma pessoa comum, e que não precise mudar nenhum adjetivo para se tornar o grande amor do mocinho? Quando a história é voltada para uma "rebelde", no fim das contas, ela caba tendo uma personalidade completamente diferente, por descobrir seu "principe", sempre deixa de agir ou pensar de alguma maneira, para se encaixar nos "padrões de amor de Hollywood". Padrões que penetram insistentemente nas nossas vidas.
Por que eu preciso ler (ou dizer que leio) 200 livros por ano, citar trechos e autores de impacto e assistir peças de Shakespeare para ser a mocinha perfeita de uma história? Será que sou menos inteligente por ouvir músicas cruas, que ninguém (ninguém comum) considera inteligente, bom. Às vezes, uma música desconhecida e desprezada diz muito mais coisas que um livro de 500 páginas renomado e "lido" por 70% da população.
Por que, para viver feliz para sempre eu preciso mudar atitudes, comprar roupas diferentes no guarda roupa?
Isso também acontece com os vilões. Por que os vilões tem cara de maus, usam roupas anexadas ao esteriótipo, agem e gostam das mesmas coisas?
Isso tudo se transfere para as nossas vidas e, como se já não fosse bastante os prenconceitos históricos, causam um preconceito contemporâneo, onde uma pessoa bem sucedida precisa ler Nietzsche, gostar de Shakespeare e de rock and roll clássico, ou, no caso do Brasil, samba de raiz.
Hoje, quando eu vejo alguém se declarando profundo entendedor de filosofia, poesia e música, sinto um enorme desprazer em saber que existem pessoas assim, que acham que suas idéias e sua verdadeira face podem ser expressas no que elas lêem, vestem ou fazem.
Eu não leio livros por prazer, eu nunca li uma poesia de Shakespeare por vontade própria, nunca li um livro de Nietzsche e não gosto de Led Zeppelin, Pink Floyd, nem ouço Bezerra da Silva. Eu leio Harry Potter, xerox de faculdade, escuto Offspring, Bad Religion, Ska-P, me contento com o conteúdo que esses veículos me trazem, e nunca ouvi alguém digno de atenção dizer que sou pior que qualquer pessoa.
Então, eu não vou deixar de ser assim para chamar àtenção.
Então, você pode ser o mocinho ou a mocinha de qualquer história. Principalmente da sua história, e você não precisa mudar o roteiro ou os aspectos do personagem principal para fazer sucesso.
- Hoje eu ia escrever sobre umas florzinhas de lã que encontrei em minhas coisas, mas lembrei que tinha essa idéia da "mocinha do cinema" guardada no celular.

4 comentários:

Unknown disse...

Oi Débora. Eu não sei quais os filmes tu tens visto, mas eu não vejo muitas mocinhas lendo Shakespeare por aí não. Eu vejo mais mocinhas preocupadas com a moda ou com conquistar caras (e.g. O Diabo Veste Prada, Sex and The City, ...). Eu acho que a cultura é sim importante. E não acho que exista nenhum livro "lido" por 70% da população, infelizmente. Eu acho que Offspring também é cultura. A cultura tem inúmeras faces. Inúmeras possibilidades, e eu procuro conhecer tantas quanto possível. Não acho certo que te critiquem por gostar dessa ou de qualquer outra banda. Mas criticar o Shakespeare? O Nietzche? Esses caras são justamente os mais rebeldes da história. A Julieta, "mocinha" do Shakespeare, era autenticamente rebelde. Tanto que morreu disso. Tem coisas que muita gente faz e que são fúteis. Mas tem coisas que muita gente faz e que são realmente interessantes. Especialmente as que resistem ao tempo. Livros que continuam relevantes por séculos e músicas que continuam relevantes por décadas, na minha opinião, geralmente não o fazem por acaso. Concluindo: não muda teu roteiro por um bom papel, mas não deixa teu roteiro se fechar às novas idéias ;). Abraço. Gosto muito de te ler.

Débora L. Freitas disse...

Leonardo, eu não critiquei Shakespeare, e muito menos Nietzche! Eu critiquei pessoas que usam conhecer e entender desses autores como "status de perfeição", compreende?
Sei lá, os filmes que dão na Sessão da Tarde, geralmente são assim!
=P

Unknown disse...

Certo. Aí concordo. Mesmo porque perfeição provavelmente não existe. E definitivamente não existe em seres humanos.

Joyce Abrantes disse...

Acho que os filmes que andas assistindo tem muito 'conto de fadas'. Eu não posso falar nada, porque os filmes que eu assisto, não tem NADA de contos de fadas. :P

Os filmes de hoje em dia são voltadas mais para 'agradar' do que pela própria história em si. Quer dizer, o que antes era feito por 'arte', hoje é feito pra vender. E geralmente, as pessoas já estão acostumadas com essas histórias clichês, onde a mocinha beija o sapo e ele vira príncipe. Já ouvi muita gente falando que não gostou de um filme porque o 'protagonista' morreu. E são esses os filmes que me agradam! :P

Por que eu preciso ler (ou dizer que leio) 200 livros por ano, citar trechos e autores de impacto e assistir peças de Shakespeare para ser a mocinha perfeita de uma história? Será que sou menos inteligente por ouvir músicas cruas, que ninguém (ninguém comum) considera inteligente, bom.
Você não precisa! É como eu disse, as pessoas se acostumaram com as coisas do jeito que elas eram. Ou seja, os inteligentes e cultos são aqueles que lêem Oscar Wilde, conhecem bons vinhos e são bem-sucedidos. É difícil alguém botar fé em um mendigo, mesmo que o QI dele seja alto e ele só não tenha mais dinheiro porque a alguém tirou-lhe tudo.

Eu não leio livros por prazer, eu nunca li uma poesia de Shakespeare por vontade própria, nunca li um livro de Nietzsche e não gosto de Led Zeppelin, Pink Floyd, nem ouço Bezerra da Silva. Eu leio Harry Potter, xerox de faculdade, escuto Offspring, Bad Religion, Ska-P, me contento com o conteúdo que esses veículos me trazem, e nunca ouvi alguém digno de atenção dizer que sou pior que qualquer pessoa.
Isso é tudo tipinho. Também tem aqueles que gostam de ler, são bissexuais e ouvem Radiohead. A sociedade tá tão dividida nesses grupinhos que ficou mais chata do que já era.

Então, você pode ser o mocinho ou a mocinha de qualquer história. Principalmente da sua história, e você não precisa mudar o roteiro ou os aspectos do personagem principal para fazer sucesso.
Tu tens razão nisso. Cansei de ver gente tentando se adaptar a esses grupinhos que dividem as pessoas, mesmo que não estivessem felizes com isso.

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